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quinta-feira, 22 de maio de 2008

SALETTE TAVARES

/

(Foto retirada da net)



Aqui me encontrarás


Aqui me encontrarás

dormindo-me silêncio

no fumo que os telhados

perfumam de pinheiro,

aqui me encontrarás

e a lua no meu ombro

vermelha do ardor

meu sangue companheiro.

Eco que eu sou

na morte de uma era

aninham os meus braços

outonos de fulgores

e os pássaros da noite

em seus olhos de espera

escutam o arfar

do perfume das cores.

Aqui me encontrarás

floresta de vermelho

segredo de vulcão

zumbindo-me no peito

aqui me encontrarás

quente fornalha de espelho

brasa amarela de vida

sol da cor com que me enfeito.

Minha forma uma montanha

de seios que a lua aquece

meus braços caminhos de água

por toda a serra a descer

recorta-me a tarde morta

perfil que o céu enlouquece

rumor remanso de frágua

brilho lunar a correr.

Prata de frio entornada,

carreiro meu sangue d´albas

esplendor de muro húmido

em leques de fetos verdes

langores de musgo veludo

em sombra de plantas malvas

em ti me sei e me escuto,

em ti me escorro e me bebo.

Aqui me encontrarás tão de longe navegada

afago de ares anjos

no oceano de uma asa

nesta terra em que me mostro

aqui de além coroada

sou água que a chuva traz

à sua primeira casa.



Salette Tavares



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Salette Tavares nasceu em 1922, em Moçambique, então uma colónia portuguesa, na cidade de Lourenço Marques (hoje em dia Maputo). Aos onze anos mudou-se com a sua família para Sintra, Portugal, e viveu em Lisboa até 1994, ano em que morreu aos 72 anos.
Fez o curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Universidade de Lisboa, licenciando-se em 1948 com a tese Aproximação ao pensamento concreto de Gabriel Marcel, que seria publicada nesse mesmo ano, em Lisboa. Traduziu os Pensamentos, de Pascal, e As maravilhas do cinema, de Georges Sadoul. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer uma especialização em Estética, em França e na Itália, onde trabalhou com Mikel Dufrenne, Étienne Souriau e Gillo Dorfles. Em 1964, a seguir à publicação do primeiro Caderno da Poesia Experimental, faz uma visita a Nova Iorque onde visita vários museus na companhia do seu amigo poeta Frank O'Hara, tendo estudado arquitectura moderna com Philip Johnson. Durante o auge da produção concretista portuguesa, em 1965, lecciona Estética na Sociedade Nacional de Belas Artes, e publica as lições correspondentes, sem ilustrações, na revista Brotéria. Um livro com essas mesmas lições, mas completas, intitulado “A dialética das formas”, estava composto em 1972, mas nunca foi publicado. Em 1979, teve uma retrospectiva da sua poesia visual na Galeria Quadrum, numa exposição chamada “Brincar”.

Biografia retirada da net

17 comentários:

João Videira Santos disse...

Um poema marcante onde uma frase o define..."meus braços caminhos de água..."

Sonia Regly disse...

Elvira,
Sempre passo por aqui e sempre tem novidades. Poesia novas e música bonit. Vc é muito caprichosa com esse lindo Espaço. Vou linkar o Sexta -feira também, é que fico esperando minha filha fazer pra mim, pois ainda não sei.Beijinhos com sdaudades.

Heduardo Kiesse disse...

bela imagem e texto igualmente poderoso! :-)
humm gostei!

anamarta disse...

Aqui me encontrarás tão de longe navegada
afago de ares anjos
no oceano de uma asa
nesta terra em que me mostro
aqui de além coroada
sou água que a chuva traz
à sua primeira casa.

Lindo! Gostei Muito! Não conhecia este poema, nem a poetisa.

Obrigada pela partilha.
um abraço e bom domingo

Sonia Regly disse...

lvira, lindas poesias postadas aqui. Vc têm um excelente bom gosto, tudo muito lindo!!! Parabéns!!!

d´Agolada disse...

Ola, acabo de coñecer o teu blog, gústame moito, publicas unhas poesías moi fermosas. Esta é moi boa. Un saúdo, ei voltar máis veces por aquí.

Benó disse...

Não conhecia este seu blogue, Elvira.
Boa ideia fazê-lo e dando a conhecer gente do nosso meio literário, uns mais conhecidos que outros mas gente da nossa gente.
Feliz semana.

Maria Clarinda disse...

Mais uma vez, obrigada pela partilha...adorei, como sempre.
Jinhos mil e boa semana

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Elvira, mais um belo poema, desta poetisa que muito pouco se ouve falar... Grata por nos dares a conhecer, belíssimos poemas, assim como os seus Autores...
Beijinhos do coração,
Fernandinha

Rui Caetano disse...

Bonito, muito bonito. A água marca o nosso sentido de um caminho que é nosso.

Sonia Regly disse...

Passei para fazer uma visitinha.Essa música do francisco Fanhais é linda!!!!Amei!!!

o escriba disse...

Elvira Carvalho

Como diz Sallete num outro poema "Aqui estou, no encontro dos caminhos..."
A soma das letras deste poema embala e encanta. É rico em sons, cores e cheiros. É forte e lindo.

bjs
Esperança

Sonia Regly disse...

Elvira!!!!!
Estou com saudades de vc!! Como vai?? Apareça, você faz muita falta. A gente acostuma com as pessoas.

mundo azul disse...

Um belo poema!!!
Beijos e muita luz...

Sady Folch disse...

Elvira, encantador este poema...como sempre os desta folha eletrônica. Está página está marcada para ser um ícone dentro da blogosfera.
Meus parabéns
Sady

Sady Folch disse...

Esta foto está a parecer com uma pérola em uma concha aberta..
Sady

tulipa disse...

Sabe bem
quando ficamos assim tranquilamente,
sem esperar nada,
apenas ali
para o que acontecer...


Um abraço.